sexta-feira, novembro 17, 2006

Mãos frias

Mãos frias. Frias. Frias. Tenho as mãos frias. Estou molhada dos pés à cabeça. E tenho as mãos frias. O resto não interessa. O resto eu quis. Eu quis andar à chuva. Não quero as mãos frias. Nem a boca roxa. Estou pálida. Pareço doente. As doenças arruinaram sempre tudo. Pelo menos aqui. Havia alturas em que ele pedia morfina. Doia-lhe. Ele tomava. E doia na mesma. Só que menos. Agora quero morfina. Também me doi. Eu quero. Mas não posso. Isso é só para doentes a sério. Sabem? E eu não sou uma doente a sério. Não daquelas que vai morrer porque o senhor doutor diz que já não dá mais, então dura uma semana. E morre. Até porque eles mentem às vezes. E podem passar anos. E passam. E ele está bem e sem morfina. Já não doi. Doi-me a mim. E fico com as mãos mais frias sempre que penso nisso. Não tento ser sarcástica nem irónica. Fico mais pessoa. A lembrar do que passou. E eu ando à chuva sempre que posso. Pra ficar doente a sério. Assim não me dão morfina, mas lembram-se que eu existo. Olá. eu existo. olá. tenho as mãos frias e o coração seco mas existo. Quero mãos quentes. E um céu novo. Com cor se possivel. E se poder ser responde-me ao olá porque me cansa continuar a falar sózinha. Falas pra mim menino grande de calças vermelhas? Eu sou pequena e preciso. Eu gosto das tuas cores. E às vezes penso se sou eu que te olho muitas vezes ou se és tu que me olhas. Fica dificil. Vejo-te tantas vezes e às tantas estás aqui ao meu lado sem eu te ver. Nunca dizes olá mesmo. Eu também não te digo por isso deixa lá. Tu olhas-me e eu olho-te. já é um olá não é? Se não é podia ser. Assim tu eras a pessoa que mais olás me dava. E era bom acreditar nisso e isso ser verdade.





Eu não quero gostar de ti. Não quero. Nunca mais gostar sequer. Depois vem a puta da felicidade e a merda da tristeza que nunca tive. E depois há aqueles filhos da puta que são felizes e fazem questão de dizer que não. Hmm. Eu calada estava bem. Mas eles ainda mais. Sim, porque eu mereço tristeza. Nós merecemos. Não é? Nós é que somos os filhos da puta que não prestam e que nunca fizeram ponta de corno e sábe-se lá a merda da razão mas somos sempre nós. Os restantes que se digam com sorte, caso contrário morram todos. Não sabem a porra que é suplicar uma merda d'um olá ou uma merda de um sorriso. Não sabem a tristeza que é pensar no tempo perdido. Mas eu como não presto e mereço vou mas é estar calada. Porque "olá eu sou uma merda de pessoa. Sou uma cabra mal educada. E mando-me foder tantas vezes quanto a vocês". Mastiguem-me. Porque eu não sei as merdas que escrevo. Mas quero e posso. E por isso escrevo.


5 comentários:

OLHAR VAGABUNDO disse...

...que dizer....
beijo vagabundo

Anónimo disse...

Nada. Não mereço comentários a isto. Nem quero mais escrever nada, pelo menos agora.

Anónimo disse...

Sou um monstrinho que se acha no direito de dizer o que quer e bem lhe apeteçe. Nem sei se gosto de mim assim, sabes? Mas também não quero apagar nada porque escrevi o que senti. Devo só parar. Parar e pensar.

OLHAR VAGABUNDO disse...

de monstro não tens nada,e claro que vou-te ler sempre,pelo menos enquanto quiseres,pois percebo por aquilo que passas e escreves bem...
beijo vagabundo e sempre que quiseres falar tou aqui...

Kalinka disse...

escreves bem
dizes que sentes o k escreves...
isso é muito importante
continua
gostei de teres divagado
sobre o que kiseste escrever.

Parabéns
nem todos sabem o que kerem escrever, tu, ao menos, sabes.

Bom início de semana.