sábado, janeiro 27, 2007

A coisinha pequena que pensa com o coração foi-se embora.

sempre podia arranjar uma maneira catita de terminar com isto. sem chegar aqui e escrever apenas "acabou". acabaram-se as palavras. a marta já não sabe mais sentir. ou deixou de perceber o que sente. por quem sente. ou se quer sentir. a vida pesa e doi e passa e o tempo ficou sempre pra trás. arrastei-me. e cansei-me. e morri e nasci. e desnasci. coube raiva. e dor. e cansaço aqui. eu própria me desinteressei por isto. até porque as palavras aqui nunca sorriram. e os amigos falados foram sempre os de ontem....talvez quando deixar de ser esta incógnita volte e aí tenha aprendido a ser mais do que uma espectadora da vida. talvez. um dia. com menos dor isto recomeçe. e acabou-se. e isto é só um blog. podia ter uma dúzia deles com mais palavras desinteressantes que estas, mas este é este, e durou o tempo que durou, nunca nada meu se prolongou o tempo suficiente e isto durou tempo a mais sem ninguém deste lado a sentir ou a ter mais cor. e sem cor não há nada. há o vazio. e por mais que escreva o vazio ele vai continuar lá.
e sem nada para dizer. despeço-me. e dou por terminado este blog.


/Anathema-flying
"-Podias fazer o favor de me dizer para onde devo ir a partir de agora?

-Isso depende muito de para onde é que queres ir. – disse o Gato.

-Não me importa muito onde... – respondeu Alice.

-Então também não importa para onde vás – disse o Gato.

... desde que chegue a algum lado. – explicou Alice.”




/Tom Waits - Alice

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Os olhos morreram e agora já não te vejo amor. nem sei a tua cor. nem sei o teu lugar. nunca mais te vou sentir. nunca mais me vais doer. eu prometi-me. nunca mais ia doer aqui nada. nunca mais ninguém ia arder. eu nunca mais me perdia assim. devia ter ficado com o azul dos dias em mim. e recordar-te sempre para sempre. e tu vais-te daqui porque já não há cor e os olhos são cegos. isso seca-me o coração. hoje ele é oco. e faz-me doer por dentro e faz-me gritar e arranhar por fora. não sei mais de ti. e era melhor ter-te aqui a passar em filme à noite e ver tudo aquilo que não chegamos a fazer tornar-se quase verdade. acordar é dor. tira-nos a vida de dentro. e é tudo confuso. e derrepente tudo é solidão. as mãos erguem-se no vazio à procura de vida. e só há paredes. paredes para levarem tudo. para arranhar. e o barulho são as plantas e os moveis que o fazem. e o choro e o desespero voltam com medo. e tu vais. afinal tu vais sempre embora sem lembrar a morte. e eles acordam de novo e enchem-me o vazio. o meu vazio desesperado e assustado.


Rodrigo Leão - Uma História Simples

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Mãe, eu quero ficar sozinho.
Mãe, não quero pensar mais.
Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem sequer ter que
me ir embora.
Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim.
Outro maldito que não sou senão este tempo que decorre
entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo,
de quê mãe?
Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver
razão para tanto sofrimento.
E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos
partir, para regressar?
Partir e aí nessa viagem ressuscitar da morte ás
arrecuas que me deste.
Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os
olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra,
mar, mãe...
Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar
nota a nota o canto das sereias... Lembrar cada
lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir
aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para
ficar...

Linda Martini - Partir para ficar

terça-feira, janeiro 02, 2007

Provavelmente a minha estúpida vida vai continuar a mesma coisa, não interessa o facto de se ser infeliz ou ingrato. somos sempre demasiado jovens para nos aperceber-mos do que temos. para dar o devido valor às pessoas. para darmos valor à vida por mais estúpida que seja. tenho 18 anos. e como a maioria das pessoas dizem isto há-de passar. ou talvez não e apenas o corpo cresça mais e se aprendam meia duzia de tretas que faremos delas lições de vida. vou sempre generalizar a minha situação pra me confortar pensando que isso é o melhor. que há quem seja como eu. grande ideia a minha. que conforto há em saber que há quem assim seja? que se sinta infeliz. não gosto de me dizer infeliz ou de me sentir. infeliz é alguém que perde alguém, infelizes são os que vivem em situações de pobreza extrema. e eu. eu nem infeliz me posso dizer. tenho tudo o que um ser normal pode desejar. tenho uma familia. uma casa. tenho tanto e tão pouco. eu já não sinto. já não convivo com as pessoas. eu fiquei parada entre o ser feliz e infeliz. e ninguém arranjou uma descrição para o meio termo em que me encontro. talvez fosse estabilidade. estabilidade quê? racional? mental? não. não me pareçe que me sinta estável em qualquer ponto da minha vida. olhando-me não consigo ver a normalidade do meu ser. não consigo contemplar nada em mim. não me consigo respeitar. nem respeitar mais ninguém. a familia tornou-se distante. eles acham que isto é uma fase e agora tendem a ignorar o facto de eu nunca sair de casa. ainda me julgam feliz. bastante inocente e bastante normal. lá no fundo acham que tenho mesmo amigos na escola ou em algum lado. nunca recebi uma pergunta por parte deles em quererem saber se sou feliz. acham sempre que tenho um namoradinho escondido algures e que faço como todas as raparigas da minha idade tudo. e se lhes dissesse o que não sou? quanto lhes ia pesar isso? e se soubessem quantas vezes choro por estar sózinha? não sei até que ponto mudariam as coisas. até que ponto melhorariam. até que ponto me iam achar louca e me internariam num manicômio. os loucos já não se apercebem mais da sua situação penso eu. não estão cientes do que sentem, nem agem de forma normal. talvez. ou talvez não. nunca vou poder saber. e se também se sentissem abandonados? e se tivesse alguém para desabafar. como é ter alguém a quem contar isto? e poder chorar. chorar até não doer mais. em quê que me tornei? que familia desfeita é esta. o ano começa e vai-se dormir. já não se festeja mais nada. a vida já não se deseja. os sonhos já não precisam ser pedidos. isto é vazio. e não há ninguém aqui. ninguém a ler isto. não faço pedidos estúpidos porque ao acaso sonho com alguém que vejo constantemente. sei-lhe o nome. e que saberá ele de mim? nada. nada é suficiente para alguém como eu .
Quem é mais frágil afinal,quem se quebra primeiro, no momento em que sentimos e sabemos de tudo o que nos rodeia. se calhar nunca vou perceber o porquê de termos abafado o som dos nossos risos e por isso continuo e o tempo ultrapassa-me, e depois morro e nasço e morro outravez sem me dar conta disso. os risos abafados são felicidade escondida não são? porquê que insistimos em esconder a felicidade? porque temos de ser tão frios. porque nos temos de habituar à frieza, à distancia. porque nos familiarizamos tanto assim com isso se afinal temos tanto medo depois. porquê?