domingo, outubro 24, 2010

The hopeless dream of being

(Persona, Ingmar Bergman, 1966)




domingo, outubro 17, 2010

Sou uma tonta




Amo demasiado as coisas e (ainda) acredito em pessoas.

sexta-feira, outubro 15, 2010

I think that

(Monica Vitti, La Notte, Michelangelo Antonioni, 1961)

quarta-feira, outubro 13, 2010

O Homem Atlântico


(杜拉斯 - 大西洋的男人)




Vais avançar. Vais andar como costumas quando estás sós e pensas que alguém está olhar para ti, Deus ou eu, ou este cão ao longo do mar, ou esta gaivota trágica face ao vento, tão só frente ao objecto atlântico.

(...)




És a extensão do mar, a extensão destas coisas seladas entre si pelo teu olhar.

O mar está à tua esquerda neste momento. Ouves o barulho dele misturado com o do vento.

Em lances intermináveis, avança em direcção a ti, em direcção às colinas da costa.





Tu e o mar, para mim são um todo, um só objecto, o do meu papel nesta aventura. Também eu olho para o mar. Tens de olhar como eu, como eu olho, o mais que posso, em vez de ti.





Saíste do campo da câmara.






Estás ausente.

(...)





Só a tua ausência fica, agora já sem nenhuma espessura, nenhuma possibilidade de nela abrir um caminho, de nela sucumbir de desejo.

(...)









Ontem à noite, depois da tua partida definitiva, fui para aquela sala do rés-do-chão que dá para o parque, fui para ali onde fico sempre no mês trágico de Junho, esse mês que inaugura o inverno.

Tinha varrido a casa, tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral. Estava tudo limpo de vida, isento, vazio de sinais, e depois disse para comigo: vou começar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba.

(...)


E depois comecei a escrever.

(...)






Disse para mim que te teria amado. Pensava que já só me restava de ti uma recordação hesitante, mas não; enganava-me, havia ainda estas praias em volta dos olhos, onde beijar e deitar na areia ainda quente, e esse olhar centrado na morte.

(...)





E depois o sol levantou-se. Um ave atravessou o terraço ao longo da parede da casa. Pensava que a casa estava vazia e chegou tão perto que esbarrou numa rosa, uma daquelas a que eu chamo de Versalhes. Foi brutalmente um movimento, o único do parque abaixo do nível da luz do céu. Ouvi a rosa amarfanhada pela ave no veludo do seu voo. E olhei para a rosa. Primeiro moveu-se, como se estivesse animada de vida, e depois a pouco e pouco voltou a ser uma rosa comum.





Ficaste no estado de teres partido. E fiz um filme da tua ausência.

(...)





Ao mesmo tempo que já não te amo não amo mais nada, só a ti, ainda.

Esta noite chove. Chove em volta da casa e sobre o mar também. O filme vai ficar assim, como está. Não tenho mais imagens para lhe ar. Já não sei onde estamos, em que fim de que amor, em que recomeço de que outro amor, em que história nos perdemos. Sei apenas quanto ao filme. Apenas quanto ao filme, sei, sei que nenhuma imagem mais poderia prolongá-lo.







O dia de hoje não amanheceu e não há o menos sopro no alto das florestas ou nos campos, nos vales. Não se sabe se é o verão ainda ou o fim do verão ou uma estação mentirosa, indecisa, horrível, sem nome.





Já não te amo como no primeiro dia. Já não te amo.




No entanto continuam a existir em volta dos teus olhos, sempre, estas imensidades que rodeiam o olhar e esta existência que te anima no sono.

Continua também esta exaltação que me vem por não saber o que fazer disto, deste conhecimento que tenho dos teus olhos, das imensidades que os teus olhos exploram, por não saber o que escrever sobre isso, o que dizer, e o que mostrar da sua insignificância original.

(...)





É assim que permaneces face a mim, na doçura, numa provocação constante, inocente, impenetrável.

E tu não sabes.

(Marguerite Duras, O Homem Atlântico)


sábado, outubro 09, 2010

Liberdade à chinês

É viver à capitalista e depois esconder umas coisinhas ou pessoas aqui e acolá.
É pesquisar no Baidu por 刘小波 e 诺贝尔奖 和平奖 e aparecer 搜索结果可能不符合相关法律法规和政策,未予显示。 . Presumo que é, de facto, um problema falar de Liu Xiaobo.


Shiuuuuuuuuuuuuuuuuuu!


Não falem nele, nem no Nobel da Paz, SHIU! que é proibido por lei. Fala só por códigos. Ou então, tu sabes, não fales, pensa.


Raios!! Isto incomoda-me à séria.

terça-feira, outubro 05, 2010

Cara Cléo, por mim podias ser uma Coca-cola assassina ou incendiária. É bem provável que isso não exista. Mas olha, eu sou a menina-anémona do livro, porque já não posso ser o gato branco, porque, ao que parece, esse já é o Sá-Carneiro.



Em nome

Em nome da tua ausência
Construí com loucura uma grande casa branca
E ao longo das paredes brancas te chorei

(Sophia de Mello Breyner Andressen, Obra Poética III)
Cara Cléo, o filme não era nada disso. Nada de nada. Se estudasses bem o assunto, concluirias que o senhor foi bastante inteligente. É por isso que não é uma coisa que a maioria goste. Vá, um em quinze. E olha que é preciso um grande apelo ao bom gosto e, por certo, à variedade. Ser-se culto agora é sinónimo de estar-se actual. Depois admira-te com o facto de teres 21 anos e de acharem estranho que conheças Safo. Estranho é acharem isso, estranho é estranharem-te por isso.
E quando as coisas são demasiado simples, como nesse filme, demasiado a preto e branco e "relativamente" actuais, isto é, em relação a Safo vão uns bons séculos....as pessoas tendem a complicar a simplicidade.
Inteligente foi o senhor, porque como te disse, se tivesses pensado minimamente, perceberias que isso é nada mais que o quotidiano. Isso é nada mais que tu, todos os dias, até aos dias de hoje, tu e a tua vidinha.






segunda-feira, outubro 04, 2010

東京物語 ou Viagem a Tóquio



Era uma vez uma Viagem a Tóquio, feita na década de 50 por um casal de idosos.
 Era uma vez a Coca-Cola no Japão do pós-guerra, da selva cinza e dos animais tristes. Era uma vez o sitio árido, era uma vez Tóquio. Era uma vez a máquina humana.  


Era uma vez a criatura viúva, de uma beleza encantadora e que respondia pelo nome de Noriko. 
Uma máquina perfeita.
Sob a terra abolição e cinza. Sobre o seu coração a mentira e todas as sombras. 

Era uma vez um filme a preto e branco. Era uma vez a desconstrução do individuo. 
Era uma vez o adulto. era uma vez a verdade, no Japão e em toda parte. No século XX ou XXI ou daqui a 20 mil anos luz.

Bem-vindo ao mundo Coca-Cola. 

E a viúva que vive viúva de si própria.


Ah,,,desenganem-se. Isto é sobre o velho casal.

Ao Domingo de manhã

Há quem goste de tomar o pequeno almoço sossegadamente, há quem goste de dormir, há quem goste de ir à missa.

Eu, vi o Shining mais uma vez.




Pode dizer-se que foi um Domingo deveras agradável.