quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Eu ia escrever sobre os ossos de vidro e o coração seco, mais seco. e ia escrever sobre a verdade presa a estas duas mãos e de como estou cansada, tão cansada como sempre. e de como estou arranhada, arranhada como sempre, e de como a tristeza já não me sabe a nada. e de como me sinto velha e só, antes da idade. e de desconfiar da pouca normalidade do meu ser. e de ser esta coisa de faz de conta que faz tanto de conta que já nem sabe quem é. e de querer fugir. fugir para dentro de mim. estou a desaparecer tanto. alguém agarre a marta ou alguém se deite aqui, com a face colada no chão. e as mãos fechadas. e as recordações todas. e a estranheza que não sai dos olhos. e as lágrimas para dar a ninguém. as paredes. a mentira. a música.alguém a tire daqui. ou alguem lhe arranque a verdade das mãos. que a máquina já estava em colapso. que os ossos já são frágeis e o coração secou. frio, vazio, só. uma pessoa qualquer no espelho de tristezas antigas. vou-me rir dos fantasmas, vou dançar na teimosa melodia antiga. vou deixar a cabeça implodir e depois vou tornar a falar de mim na terceira pessoa e fazer de conta que existo e que não sou uma mentira. porque não. não o sou. jáestoufartadepensarquemsou. não vou responder a isso. porque não consigo. porque já gritei e feri que chegue as mãos e elas mentem. mentem fechadas. mentem mortas pela monotonia. mentem mortas porque toda gente mente. mentem porque são isto que todos somos. talvez não mentissem ao meu gato. mas ele está morto e ao contrário delas não apareçe no espelho. nem fechado nem de forma nenhuma. nem vazio, nem evaporado.nem nada que me tire daqui e me faça verter lágrimas egoistas e mentirosas pela sua morte. ninguém que faça lamentar a perda de alma. porquê que tudo pareçe um desperdicio quando o tempo passa sem ninguém. é tudo uma maldita luta inútil. somos um e não dois. idiotas. eu não vou assumir isso. não vou. seja como for também já não tenho saida. já não tenho verdade e estou realmente cansada. devia rir. não vou sentir a tristeza de lutar por não perder a outra metade. nem vou ficar com a outra metade quanto essa metade já é uma parte completa e depois já são dois. são dois mas agem como se fossem um. não vou, ponto final. vou ver um filme e desrespeitar o meu ser e não chorar. não vou ouvir a música nem vou escrever palavras que me rasgam. vou permanecer neste silêncio absoluto e aguentar muito muito tempo. vou inspirar e escolher não ser isto que não doi. mascarada de uma dor qualquer semi-profunda.