quarta-feira, dezembro 30, 2009

terça-feira, dezembro 22, 2009

quinta-feira, outubro 22, 2009

Aniversário



No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Álvaro de Campos, in "Poemas"

domingo, agosto 16, 2009


faz-me falta silêncio e alguém do outro lado, no espelho, alguém que não eu.

domingo, agosto 02, 2009

uma aprendiz miserável


eu sou este tipo de pessoa. quem sabe até pior. o melhor de mim é que não sei nada de ninguém. o melhor que faço é arruinar o nada que sou, há quem me atribua números e eu dúvido se o problema é deles ou meu e é quando chego à conclusão que a responsável sou só eu. eu e mais nada. e não eu não sei de nada. eu não sou boa, é o que os números dizem e se assim é eu acredito só porque sim. hoje eu deixo que me arruinem o dia. amanhã não.

domingo, abril 26, 2009

eu podia contar com isto tudo, era previsivel, eu fiz de conta que não sabia, eu arrisquei, mantive as expectativas altas e continuei.
às vezes é confortável achar que sim só porque sabemos o quanto é certo o não. e a mim apeteçeu-me continuar a tapar os olhos e a fazer de conta que não sentia essa dormencia mental, eu não queria ser essa coisa triste que se repete no fracasso e no abandono. sinto falta da música e das pessoas que gostam de livros, sinto falta de quem me faz sorrir, do quente do meu ser, e do meu mundo cheio de estranhos.
estou cansada e perdida de casa, não sei que cor há em ti e muito menos o fundo que há em mim.
agora deviam haver risos no ar e abraços quentes e confortáveis só porque sim.
tenho saudades do que já ninguém tem para me dar.