sexta-feira, julho 28, 2006

Um dia qualquer

Seguia-mos em direcção ao centro da cidade, ia-mos apenas às compras. A caminho, tive ainda a oportunidade de ver de relançe o lugar. Continuava igual. Só que vazio. As portas continuavam fechadas e hoje, ao contrário dos restantes dias, não haviam lá pensamentos distantes sozinhos acompanhados de alguém já velho ou de um jovem apenas cansado do percurso. Reparei na paisagem, das outras vezes não tinha dado conta de que era digna de uma pintura de Outono quando ainda é Verão, os tons de castanho e um enorme conjunto de árvores infinitas. Dentro do carro ao som da mesma música que me acompanha agora, apercebo-me da velocidade do tempo e da lentidão do mesmo p'ra mim. Do que ele me arrancou ou do que eu fiz questão que ele me levasse. Sinto-me à deriva no tempo, sem retorno possível ao ponto de partida. Por fim chegamos ao parque de estacionamento. Saímos do carro. E subimos em direcção a uma loja de roupa. Não comprei nada. Tudo o que devia de agradar a uma jovem estava naquele local. E eu, não estava minimamente interessada. O que queria era apenas sair daquele lugar abafado. Por momentos notei que algumas daquelas pessoas se deparavam com a escolha entre uma ou outra peça e faziam disso uma importante escolha. Achei logo de seguida ridiculo. E passado poucos minutos tornei-me insuportável, pois a minha mãe insistia para que levasse algo. Finalmente, e após uma enorme quantia gasta por ela, saimos da loja. O sol fez-se sentir. Queimava-me a pele, talvez por essa razão detestava praia e tudo o que fosse feito no Verão.Caminhamos de novo em direcção ao parque, já só faltavam fazer as compras para casa. Rápidamente, e porque a minha mãe não me conseguia acompanhar o passo, se fez notar uma pequena distância entre nós. Continuei, cabisbaixa, escondendo-me atrás de largos passos através da multidão que evitava sempre. Nunca gostei de multidões, talvez medo, me faz fugir ainda mais delas. O receio de te encontrar num olhar e me reflectir nele. Tudo o que me possas dizer o que sou. E queria. Queria tanto ver-te. Ver-te sem me veres. Tenho medo da reacção que terias. A espontaneadade que algum dia fez parte de mim. Deixou-me. E agora. Imagino vezes sem conta como seria reencontrar-te. Falar-te. Não sei o que isso é. Quem sabe se as minhas pernas iriam tremer de novo e as minhas mãos ficarem ainda mais frias. E o coração que já só bombeia sangue frio. Aqueçeria. Isto seria demasiado perfeito. Desejo isto, mas contudo, não o queria planeado ou perfeito. Não consigo deixar de te pensar. E quando deixo há sempre alguma coisa que me lembra de ti. Como se estivesses no ar. ou numa palavra que é só tua. Já pensei em apagar isto tudo. Tudo o que te escrevi até a este dia de Verão. Não posso. Não consigo. Nem quero. Só pensei. Devia ser castigada por isso. Ou devia escrever tudo em papel e deitar ao mar em pequenas garrafas e depois apagar tudo daqui. Sabes. Um dia quando morrer quero ser cinzas e ser entregue ao mar. O mar assusta-me. O vento faz-me sonhar. Aí. Ia ser livre. Não ia ficar restringida a quatro paredes. E um tecto já tão branco que me cansa....

M.

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