sexta-feira, julho 07, 2006

Lembranças...

Dizem que não podemos viver do passado ou que as lembranças não importam assim tanto. A verdade é que aquilo que sou é resultado de um passado fracassado. Daquilo que era. Era a que fivaca de parte. A que quase nunca tinha amigas. Era a obrigação constante de uns pais demasiado ocupados. Depois fui crescendo queria a todo custo sobressair ou simplesmente fazer-me notar entre alguém. Invejava as coisas que hoje em dia acho mais superficial nas pessoas. Invejava uma imagem. Invejava ainda mais. Os amigos que os outros tinham. E o avontade com que se expressavam. Estar ou não estar era exactamente o mesmo. O meu pai veio a tornar-se canceroso. A partir daí vieram jornadas de luta atrás de luta contra um cancro que se alimentava de todos. Viagens diárias infinitas do Porto a Braga. Nunca fiz questão de dizer que tinha um familiar doente. Na verdade sempre evitei falar disso. Era como se me obrigassem a vasculhar no maldito passado e reviver tudo de novo. E sempre que falava nisso os meus olhos dilatavam e enxiam-se de lágrimas. O cancro "adormeçeu" apesar de maligno. Veio ainda outra época. A da entrada na adolencencia. Sempre com vontade de agradar aos outros. Várias tentativas ridiculas. Não saber quem sou. Não gostar de mim. E tentar fazer com que os outros gostassem de mim? era no minimo ridicula. Consegui. Mas o sabor dessa conquista. Essa conquista em que todos somos demasiado superficiais para nos preocupar-mos em saber quais os medos ou pensamentos de alguém. A verdade é que essa conquista não me trouxe nada. Além de mais vazio. E a descoberta do que é ser notada entre alguém afinal não é algo de tão extraordinário. Ou eu não passo de mais uma que pensa que teve ou foi alguém e no final não foi nada. Isso levou-me a descobrir que não tenho de viver para agradar os outros. Ou muito menos viver em função do que os outros pensam (mesmo que esses outros sejam teus amigos). Alguém que fosse verdadeiramente teu amigo não te julgaria pelas tuas escolhas, afinal já devia saber que só queres ser feliz. Descobrir que somos nada no meio de nada ou de muito ridiculo. E que quando tento ser eu mesma. Quando tento fugir a um padrão. O verdadeiro eu assusta demasiadas pesssoas. Habituadas a tão pouca verdade. Passei a detestar toda essa superficialidade. A não dar mais importância a olhares repugnantes que não sabem sequer o que é ser. E que se acham sempre acima de mais alguém. Só por serem o que são. Cópias de alguém.
E eu? Quem sou eu? Afinal de contas acabo por ser nada. Nem menos nem mais que eles. E sim. Coloco-me em pé de igualdade com esses que eu detesto. Porque apesar de tudo. Fiquei habituada a estar muito mais abaixo de todos. E a saber que quando há um meio termo. E sabe-mos estar lá. Isso sim é tão mais digno do qualquer outra coisa.
No fim de contas somos todos nada. A diferença está entre saber ser nada e saber ser alguém.

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